sintomas, diagnóstico precoce e tratamentos

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O que é o câncer de bexiga?
O câncer de bexiga é um tumor do urotélio (revestimento interno da bexiga). É mais comum em homens, sobretudo a partir dos 50 anos, e tem como principal fator de risco o tabagismo. Além do cigarro, a manipulação de tintas e solventes é fator de risco importante. Quando diagnosticado cedo, as chances de controle são elevadas com cirurgias endoscópicas e terapias intravesicais.
O tipo histológico mais frequente é o carcinoma urotelial. A doença pode ser não-músculo-invasiva (NMIBC) — confinada à mucosa/submucosa — ou músculo-invasiva (MIBC), quando já compromete a camada muscular. A distinção define o plano de tratamento e o prognóstico. Diretrizes internacionais atualizadas estruturam condutas conforme risco de recorrência e progressão.
Quais são os principais fatores de risco?
O tabagismo é o fator de risco mais importante. Exposição ocupacional a aminas aromáticas (indústrias têxtil/química), idade avançada, sexo masculino e inflamação crônica também aumentam a chance de câncer de bexiga. Cessar o cigarro reduz risco e melhora resultados de tratamento.
Além do cigarro, histórico familiar, radioterapia pélvica prévia e certos fármacos como o tamoxifeno podem elevar o risco. No Brasil, materiais do INCA orientam prevenção e vigilância de sinais de alerta, com foco em hematúria (sangue na urina), o sintoma mais comum.
Quais são os sintomas iniciais?
Muitas vezes o câncer está presente mesmo que assintomático, imperceptível. O sinal mais frequente é hematúria macroscópica indolor (urina com sangue). Também podem ocorrer urgência miccional, aumento da frequência urinária, ardor ao urinar e dor pélvica. Em fases avançadas, surgem dor óssea e perda ponderal. Mesmo assintomático, o tumor pode existir: atenção à urina com sangue.
Sintomas do trato urinário inferior (irritativos) podem estar presentes inclusive no carcinoma in situ (CIS), forma plana e agressiva. Por se confundir com infecção urinária ou hiperplasia prostática, qualquer hematúria merece investigação com urologista.
Como o câncer de bexiga é diagnosticado precocemente?
O diagnóstico combina história clínica, exame de urina, citologia urinária e imagem. Porém, o exame determinante é a cistoscopia, que visualiza a bexiga por endoscopia e permite biópsia. Em casos selecionados, técnicas com luz azul e ressonância auxiliam. O objetivo é confirmar o tumor e estadiar corretamente.
A avaliação inclui ressecção transuretral de bexiga (RTU-B) para diagnóstico/tratamento inicial nas formas não-músculo-invasivas. O estadiamento diferencia NMIBC de MIBC e guia terapias intravesicais (BCG, mitomicina C) ou cirurgias maiores (cistectomia). Guias EAU/AUA trazem algoritmos por risco (baixo, intermediário, alto).
O que é cistoscopia e por que ela é o exame-chave?
A cistoscopia é o exame endoscópico padrão-ouro para identificar e biopsiar lesões na bexiga. Pode ser flexível (ambulatorial) ou rígida (em centro cirúrgico). Existem versões com luz azul (fotodinâmica) que realçam áreas suspeitas e ajudam a detectar tumores planos (CIS).
Durante a cistoscopia, o urologista avalia toda a mucosa e, quando indicado, realiza RTU-B para remover tumores superficiais. Após o exame, é comum ardor ao urinar e urina rosada por 24–48 horas, com retorno rápido às atividades em cistoscopia flexível. Sinais de febre, dor intensa ou sangramento persistente exigem contato médico.
E o que é uretroscopia — quando se indica?
Uretroscopia é a endoscopia da uretra. Em câncer de bexiga, é considerada quando há suspeita de envolvimento uretral/colo vesical, sintomas atípicos ou avaliação complementar do urotélio. É exame adjunto à cistoscopia, parte do conceito de “campo urotelial” nas diretrizes.
O carcinoma urotelial pode afetar diferentes segmentos do urotélio. A abordagem diagnóstica completa examina toda a via urinária quando clinicamente indicado, com endoscopia e métodos radiológicos. A AUA reforça atenção a sítios extravesicais em pacientes com carcinoma urotelial, especialmente no seguimento de risco.
Como se classificam os tumores: NMIBC x MIBC?
NMIBC reúne tumores Ta/T1 e CIS: tratáveis por RTU-B e terapias intravesicais. MIBC (≥T2) invade o músculo detrusor e, em geral, demanda cistectomia com linfadenectomia e tratamento sistêmico. O risco de recorrência/progressão orienta a intensidade do seguimento.
As diretrizes EAU/AUA estratificam NMIBC em baixo, intermediário e alto risco (tamanho, número, grau, CIS), ajustando o uso de mitomicina e BCG e a frequência de cistoscopias de controle. Em MIBC não metastático, recomenda-se quimioterapia neoadjuvante baseada em platina antes da cistectomia, quando elegível.2
O que é quimioterapia intravesical? (BCG e mitomicina C)
Quimioterapia intravesical é a instilação do medicamento dentro da bexiga, logo após RTU-B ou em esquemas de indução/manutenção para reduzir recorrência e progressão do NMIBC. As drogas mais usadas são BCG (imunoterapia intravesical) e mitomicina C; a escolha depende do risco.
BCG é padrão para alto risco (T1 de alto grau, CIS), com indução e manutenção conforme protocolos. Mitomicina C é opção para baixo/intermediário risco, inclusive como dose única pós-RTU-B em até 24 horas. Atualizações sugerem estratégias de otimização de dose/tempo e mostram eficácia comparável em contextos selecionados.
Quais são os benefícios e riscos da instilação intravesical?
Benefícios: menor recorrência, redução de progressão (especialmente com BCG em alto risco) e preservação da bexiga. Riscos: sintomas irritativos, cistite química, febre e, raramente, infecção sistêmica por BCG. O esquema é individualizado pelo risco tumoral e tolerância clínica.
A adesão a ciclos completos e manutenção (quando indicada) melhora resultados. Em indisponibilidade de BCG, estratégias com mitomicina C otimizada (p. ex., 40 mg/40 mL) mostram bom desempenho em grupos de risco intermediário, segundo estudos comparativos recentes.
Quais são as opções de tratamento por estágio?
NMIBC: RTU-B + instilação imediata de mitomicina (baixo risco) e BCG com manutenção (alto risco). MIBC: cistectomia radical + quimioterapia baseada em platina (neoadjuvante) e reconstrução urinária. Em doença avançada, avaliam-se imunoterapias e combinações sistêmicas.
A decisão é multidisciplinar. Para preservar qualidade de vida, considera-se preservação vesical em protocolos selecionados (RTU-B máxima + quimio/radioterapia) em pacientes que não podem ou não desejam cistectomia, desde que haja resposta oncológica e seguimento rigoroso.
Como é o seguimento após o tratamento?
O seguimento envolve cistoscopia periódica, citologia urinária e, quando indicado, imagem, com intervalos definidos pelo risco. Na prática, NMIBC de baixo risco recebe vigilância menos intensa que alto risco. A detecção precoce de recidivas permite RTU-B e ajustes intravesicais.
Para MIBC, o acompanhamento inclui avaliação metabólica, imagem de abdome/pelve/tórax e reabilitação funcional. Sintomas urinários persistentes, perda de peso e dor óssea exigem reavaliação rápida. A educação do paciente sobre sinais de alerta e adesão às consultas influencia diretamente sobrevida e qualidade de vida.


Tabela comparativa — exames no diagnóstico do câncer de bexiga
Exame | O que avalia | Vantagens | Limitações | Quando usar |
Cistoscopia | Visualiza bexiga e permite biópsia/RTU-B | Padrão-ouro; pode usar luz azul | Invasivo; desconforto transitório | Suspeita/seguimento de tumores |
Uretroscopia | Avalia uretra/colo vesical | Complementa campo urotelial | Não estagia bexiga | Suspeita uretral/lesões adjacentes |
Citologia urinária | Células neoplásicas na urina | Alta especificidade p/ alto grau/CIS | Sensibilidade baixa p/ baixo grau | Adjunta, especialmente alto risco |
Imagem (TC/RM) | Estadiamento e extensão | Estima invasão/localização | Não substitui biópsia | Estadiar MIBC/complexos |
Fontes orientadoras: EAU/AUA (NMIBC/MIBC), INCA (Brasil), materiais educativos sobre cistoscopia.
Recuperação: o que esperar após RTU-B e instilações?
Após RTU-B, é comum urina rosada, ardor ao urinar e discreta cólica vesical por poucos dias. Nas instilações, sintomas irritativos são frequentes e manejáveis. Hidratação, analgésicos e orientação de sinais de alerta (febre, coágulos persistentes) fazem parte do cuidado.
A comunicação com a equipe assistencial minimiza interrupções de tratamento. Pausas temporárias podem ser necessárias em eventos adversos moderados a graves, sem perder de vista o objetivo oncológico. Programas educativos melhoram adesão e desfechos, especialmente em terapias de manutenção (BCG).
Custos e acesso: o que considerar em 2025?
Cistoscopia e RTU-B são amplamente disponíveis. BCG e mitomicina integram protocolos padronizados; eventuais oscilações de oferta exigem planejamento. Em MIBC, a cistectomia e reconstrução urinária têm maior custo/complexidade. O médico deve alinhar evidências, recursos e preferências do paciente.
Aconselhamento sobre cessação do tabagismo é custo-efetivo e reduz recidivas. Materiais do INCA e sociedades médicas fornecem guias atualizados para pacientes e profissionais, apoiando decisões informadas e acompanhamento adequado.
Mitos e erros comuns (e como evitá-los)
“Urina com sangue é normal” — mito; sempre investigue. “Se doer, é infecção” — dor pode faltar. “Negativou citologia, não é câncer” — citologia não exclui tumor de baixo grau. “Cistoscopia sempre dói” — flexível é bem tolerada. “BCG é quimioterapia” — é imunoterapia intravesical.
Boas práticas: procurar urologista diante de hematúria, seguir cronograma de cistoscopias, aderir às instilações e cessar tabagismo. Educação reduz atrasos diagnósticos e melhora sobrevida específica.
FAQ — Perguntas frequentes (10+)
1) Urina com sangue sempre indica câncer de bexiga? Não, mas sempre precisa de investigação. Hematúria macroscópica indolor é o achado mais comum em tumores de bexiga acima dos 50 anos.
2) Cistoscopia dói? Posso ir embora no mesmo dia? A cistoscopia flexível costuma ser bem tolerada com gel anestésico e normalmente é ambulatorial, permitindo alta no mesmo dia e retorno rápido às atividades.
3) Para que serve a uretroscopia se já faço cistoscopia? A uretroscopia avalia uretra/colo vesical, útil quando há suspeita de lesão extravesical ou sintomas atípicos. É exame adjunto no conceito de campo urotelial.
4) O que é RTU-B? É a ressecção transuretral da bexiga: remove tumores superficiais e fornece material para biópsia. Geralmente é o primeiro passo terapêutico no NMIBC.
5) O que é quimioterapia intravesical? Instilação de medicamentos dentro da bexiga para reduzir recorrência/progressão: BCG (imunoterapia) e mitomicina C são as mais usadas, conforme risco.
6) BCG e mitomicina são iguais? Não. BCG é imunoterapia intravesical preferida no alto risco (p. ex., CIS, T1 alto grau). Mitomicina é quimioterápico eficaz em baixo/intermediário risco e em dose única pós-RTU-B.
7) A instilação intravesical pode causar efeitos colaterais? Sim: sintomas urinários irritativos, febre e cistite química são os mais comuns; complicações graves por BCG são raras e exigem avaliação imediata.
8) Quando a cistectomia é indicada? Em MIBC não metastático ou alto risco refratário/recorrente. Recomenda-se quimioterapia neoadjuvante baseada em platina quando elegível.
9) O câncer de bexiga sempre volta? O NMIBC tem risco de recidiva; por isso, cistoscopias de seguimento são essenciais. A intensidade do follow-up depende do risco.
10) Parar de fumar ajuda mesmo depois do diagnóstico? Sim. Cessar tabagismo reduz risco de recidiva e melhora respostas ao tratamento.
11) Luz azul na cistoscopia melhora a detecção? Sim, pode realçar lesões planas como CIS e complementar a cistoscopia de luz branca.
12) Quem define meu risco (baixo/intermediário/alto)? O urologista utiliza tamanho, número, grau e presença de CIS para estratificar risco segundo AUA/EAU, definindo instilações e frequência do seguimento.
Considerações Finais
Em 2025, o controle do câncer de bexiga depende de diagnóstico rápido — com cistoscopia e, quando indicado, uretroscopia — e tratamento personalizado: RTU-B, quimioterapia intravesical (BCG/mitomicina) no NMIBC e cistectomia com terapia sistêmica no MIBC. Parar de fumar e manter seguimento reduzem recidivas.
A mensagem central para homens de 50–75 anos: hematúria não é normal. Busque avaliação urológica precoce. Com diagnóstico oportuno, as taxas de controle são altas, preservando qualidade de vida. O plano ideal considera risco oncológico, preferências e recursos disponíveis, sempre alinhado a INCA/SBU e AUA/EAU.


Dr. Daniel Hampl
Dr. Daniel Hampl é urologista e cirurgião robótico, com certificações internacionais no sistema Da Vinci®. Doutor pela UERJ, realizou observership no MD Anderson Cancer Center (EUA). Membro da SBU, AUA e EAU, atua no Rio de Janeiro com foco em uro-oncologia, preservação funcional e cirurgias minimamente invasivas.
Referências externas (até 5)
Estudos comparando BCG e Mitomicina C (2024). ScienceDirect
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